Muito tem-se estudado em relação aos agentes medicamentosos que possam trazer algum benefício clínico ao paciente com câncer e àqueles que apresentam risco moderado a alto de desenvolvimento do câncer colorretal. No entanto, muitas são as expectativas e poucos são os resultados palpáveis. Vamos lá!
Não citarei nada relacionado a fitoterápicos, pois muito menos embasamento científico temos.
Iremos nos delimitar ao: AAS, Vitamina D, anti inflamatórios não esteroidais e carbonato de cálcio.
O AAS é um dos medicamentos mais bem estudados, até o momento, embora ainda careça de alguns dados. Temos muitos estudos avaliando o uso de AAS em pacientes que nunca tiveram câncer colorretal e em pacientes que já tiveram. Além disso, os estudos empregam diferentes doses de AAS. E, finalmente, temos estudos avaliando o uso do AAS na recorrência ou no aparecimento de adenomas – lesões polipóides do intestino, que dependendo de algumas características podem levar a lesões malignas no futuro; e por isso, sua prevenção, previne o câncer colorretal, indiretamente. Temos estudos, também, avaliando o uso de AAS na prevenção do câncer colorretal, diretamente. Conclusões: Não estamos super bem embasados com o uso do AAS e a prevenção do câncer colorretal, diretamente, porém temos já dados suficientes para empregar o AAS na redução do aparecimento dos adenomas. Em relação à posologia, acredita-se que a dose de 100mg/dia, seja uma dose diária suficiente para tal redução, embora ainda haja interrogações sobre. Por isso, hoje, é aceito que o AAS na dose de 100mg/dia possa ser prescrito em pacientes com risco alto a moderado de câncer colorretal pelo aparecimento de adenomas, e que NÃO TENHAM CONTRA INDICAÇÃO AO SEU USO, como alergias, risco aumentado de sangramento ou perfuração e ulceras no trato gastro intestinal. O uso de AAS àqueles que já tiveram câncer colorretal com o intuito de redução de recorrência da doença, pode ser avaliado, individualmente, com o oncologista.
Uso de anti inflamatórios não esteroidais ( AINE ): anti inflamatórios que não são corticóides. Alguns estudos que empregaram o uso de AINE identificaram a redução de recorrência na formação de pólipos adenomatosos. No entanto, seu uso também não é inocente, cursando com toxicidade gastro-intestinal e cardiovascular. Por isso, não se recomenda seu uso, indiscriminadamente, em pacientes com risco aumentado de câncer colorretal.
Uso de Vitamina D – a suplementação com Vitamina D vem sendo relacionada a um melhor prognóstico dos pacientes com câncer colorretal. No entanto, o que existem são estudos onde se identificaram que a população com diagnóstico de câncer colorretal em quimioterapia que tinha doses sanguíneas mais altas, apresentavam um melhor desenrolar da doença em se tratando de resultados, quando comparados àqueles pacientes em quimioterapia mas com taxas mais baixas de vitamina D. Recentemente, em 2019, publicou-se um estudo de fase II que avaliou o emprego de altas doses de Vitamina D versus doses padrões da mesma em pacientes em quimioterapia para ca de cólon, onde não se identificou aumento de uma determinada sobrevida avaliada, embora estudos maiores tenham de ser realizados para decisão final. Mas, de qualquer forma, a solicitação e suplementação de Vitamina D é bem aceita na prática clínica. Acredita-se que a vitamina D tenha, dentre outras propriedades, a regulação da proliferação celular.
Cálcio – Especula-se que o cálcio se ligue aos sais biliares e a ácidos graxos no intestino, reduzindo os efeitos desses compostos de proliferação da mucosa do mesmo. Há outras hipóteses sendo estudadas. Os estudos envolvem a suplementação de cálcio sozinho, em associação com vitamina D ou a partir da suplementação com derivados lácteos. O cálcio foi avaliado em estudos para redução de incidência de adenomas e de câncer colorretal. Parece que o uso de cálcio promoveu redução de recorrência de adenomas, no entanto ainda são resultados modestos, e não podem ser empregados na prática clínica como verdade absoluta.
Em suma, como citei no início desse texto, as especulações são muitas, mas embasamento científico verdadeiro são inversamente proporcionais. De posse de resultados interrogados ainda, o oncologista pode avaliar custo benefício de se empregar alguma dessas opções.